sábado, 12 de abril de 2008

Pavaroti, O Sabiá-Tenor

Era mais um daqueles dias calmos na mata do Capoeirão dos Tucanos, lar de um alegre sabiá chamado Pavaroti.
Pavaroti recebeu esse nome de sua finada mãe, pois, desde pequenino, tinha o canto mais grave e aprazível de todo o Capoeirão. Com o passar dos anos, ele ficou conhecido por todos na mata devido sua bela música e tornou-se de praxe cantar para os outros logo no início da manhã.
Como de costume, Pavaroti estava voando para seu galho preferido, onde entoava o cântico matinal. O adorável pássaro gostava de cantar lá do alto de um grande jequitibá centenário, de onde o seu suave canto ressoaria e todos poderiam ouvi-lo melhor. Levava consigo somente seu solfejo, onde estava escrita em partituras dourada a sua encantadora música.
Chegada a hora, Pavaroti cantou para todos do alto de seu palco. Ia desde a sinfonia nº 40 de Mozart até aos doces blues americanos de Neil Armstrong, passando pelos sambinhas populares de Vinicius de Moraes.
Enquanto o sabiá cantava com a alma e incorporava um verdadeiro tenor, dois caçadores que revendiam aves raras no mercado negro passavam pela mata. Ouvindo aquele luxuriante cântico, logo pensaram que um sabiá era comum, mas um sabiá que cantava tão bem era raro de se encontrar. Eles não podiam perder essa oportunidade de ficarem ricos e, sem hesitar, dispararam balas de borracha contra o pobre cantor.
Os tiros passaram raspando o corpinho delicado do pássaro, interrompendo o seu magnífico canto. Toda a multidão dissolveu-se assombrada com o ribombo provocado pela arma e os cruéis caçadores acabaram voltando para a cidade sem capturarem seu valioso alvo.
Enquanto isso, Pavaroti voava veloz para longe, tomado de susto e melancolia, concluindo, tardiamente, que os caçadores não apreciam uma boa música.

- Moral: Às vezes, um pouco de modéstia faz falta à vida.

Pedro Henrique Santiago Lima
Descoberto, 13 de agosto de 2007

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