Essa história que vou contar
É difícil de acreditar,
É difícil de acreditar,
Mas se alguém de mim duvidar
Basta perguntar pelo Julião,
Basta perguntar pelo Julião,
Lá nas terras de além-mar.
Julião era um menino franzino,
Vivia de cabeça baixa.
Tinha os olhos sempre lacrimejantes
E nunca dava um mero sorriso...
Vivia de cabeça baixa.
Tinha os olhos sempre lacrimejantes
E nunca dava um mero sorriso...
Sei que não tenho nada com isso,
Mas com Julião eu me preocupava,
Pois sempre que ele chorava
Um rio de suas lágrimas surgia.
A sorte de nosso povo
Era por ele ser bastante forte.
Era por ele ser bastante forte.
Não chorava por um puxão de orelha
Nem por um soco que levava.
O problema é que ele chorava
Quando via fome, miséria e poluição.
Quando via morte, doença e destruição.
Julião era um menino bondoso,
De coração solidário.
Só de ver alguma injustiça acontecer,
Abria a boca a berrar.
Abria a boca a berrar.
Longas cascatas desciam de seus olhos,
Varrendo toda a cidade
E, com ela, toda a maldade.
Um dia quando assistiu na televisão
A guerra que acontecia no Capão
Julião não se aguentou.
Vendo tanta morte,
Tanta perversidade,
Tanta injustiça!
Abriu a boca a chorar...
Suas lágrimas lavavam a terra,
Nutrindo plantas, alimentando regatos.
Seu choro de enxurrada
Nutrindo plantas, alimentando regatos.
Seu choro de enxurrada
Levava tudo por onde passava.
Franzino menino,
Gigantescas ondas.
A água escorria à saraivada de seus olhos.
Franzino menino,
Gigantescas ondas.
A água escorria à saraivada de seus olhos.
Seus berros criavam raios
E os soluços eram trovões.
Foram quarenta dias e quarenta noites de choro,
Quando Julião cessou seu pranto.
No instante em que abriu seus olhos
Nada viu, nada restara.
Somente ele,
Sentado numa estranha canoa,
Ao sabor da corrente que de seus olhos surgiu.
Pedro Henrique Santiago Lima
Descoberto, 21 de agosto de 2006
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